terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

Análise - "Noir Burlesco Vol. 1" com argumento e ilustrações de Enrico Marini

Publicado em parceria pelas editoras Arte de Autor e A Seita, Noir Burlesco trata-se duma história em duas partes. Foi publicada originalmente em novembro de 2021 pela editora Dargaud e, para aqueles que não conhecem a premissa da história, segue a sinopse:

 


Filadélfia 1950. Terry Slick é um gangster dos duros, um lobo solitário, com preferência por trabalhar sozinho, especialista em assaltos ousados e rentáveis. Os acasos da vida - ou o que dela fez - obrigam-no a trabalhar para Hollow, um dos senhores do crime locais, por razões diversas entre as quais pagar uma dívida do seu irmão.
Se por motivos óbvios, a relação entre ambos nunca foi a ideal, torna-se mais complicada quando Slick, após ausência para prestar serviço militar que o levou a combater na Europa, na II Guerra Mundial, descobre que Deb Caprice, a sua grande paixão de sempre, permanente e mal resolvida, é agora noiva de Hollow.

 


Neste livro Marini apresenta aos leitores um thriller ambientado nos anos 50 que tal como indica o nome está recheado de todos os clichés do género noir. Mas desengane-se quem acha que isso é um problema neste volume. Muito pelo contrário! Deste modo, a lenda da BD europeia consegue explorar e aplicar os elementos visuais do género ao seu traço maravilhoso. Assim, o desenrolar da história apresenta-nos sequências de violência, assaltos, perseguições de carros e, como não poderia faltar, mulheres sensuais. A ilustração apresenta uma planificação que privilegia bastante a narrativa visual e apresenta um tom cinematográfico. É, sem dúvida, um trabalho espantoso e que espanta ainda mais com o recurso a splash e double splash pages. Finalmente, o recurso a ilustração a preto e branco ajuda bastante na ambientação sombria deste policial sombrio e a utilização da cor vermelha destaca os elementos sensuais e violentos da história.

 


Mas, se por um lado a ilustração segue as características do género noir, por outro lado o argumento não fica nada atrás. Tal como foi citado na sinopse, temos um protagonista que lembra bastante os personagens do cinema deste género e que não traz algo nada de novo. Diria mesmo que a história é a típica história apresentada neste tipo de histórias. Se para alguns isto pode ser algo de desinteressante, pessoalmente não vejo problema nenhum, uma vez que a história é bem contada. E como se diz if it ain't broke, don't fix it.

A dinâmica entre Slick e Deb é interessante, uma vez que ambos sentem a atração de um amor passado mas que pelas circunstâncias de escolhas do passado os impossibilita de o materializar. Marini consegue mostrar isso de uma forma muito eficaz e com pouco diálogo. De facto, estes dois personagens são o núcleo central da história que, apoiados por um elenco de personagens coadjuvantes, são desenvolvidos pelo argumentista. É de destacar que os personagens secundários permitem ao autor passar informações ao leitor sobre o contexto dos personagens e, assim, dar outra dinâmica à história. São também estes personagens que permitem, através da interação do protagonista com os mesmos, trazer um tom cómico ao argumento. Finalmente, Marini consegue conduzir a história a um clímax que deixa em aberto a história para o segundo volume. 

 

 

Relativamente à edição, temos um livro com acabamento cartonado, papel brilhante e um conjunto de esboços como extra. Poderão ver mais imagens deste álbum aqui: https://www.instagram.com/p/Cmo58EkMEM5/

Noir Burlesco é mais uma excelente aposta que resulta da parceria entre as editoras Arte de Autor e A Seita que, mesmo não revolucionando o género noir, recorre de todos as suas características para trazer uma história bem contada e elevada por uma arte fantástica!

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