quarta-feira, 29 de março de 2023

Análise - "Mattéo: Sexta Época (2 de Setembro de 1939 – 3 de Junho de 1940)" com argumento e ilustrações de Jean-Pierre Gibrat

Catorze anos após o lançamento do primeiro volume da série Mattéo, a Ala dos Livros, que recuperou a série após a VitaminaBD ter publicado apenas os dois primeiros volumes, termina neste ano de 2023 a publicação da série com o sexto volume. Mas será que valeu a pena a espera?



Um dos charmes da série assinada por Jean-Pierre Gibrat é o contexto político que envolve a história. Após vermos Mattéo na Guerra de 1914, na Revolução Russa, na Guerra de Espanha e na Frente Popular, desta vez é a Segunda Guerra Mundial que serve de pano de fundo para o desenrolar da trama. No entanto, ao contrário do que se passa em outros volumes, o protagonista não participa ativamente nos combates. 

Mattéo, que conseguiu evadir-se do forte de Collioure, volta para casa, no entanto tem de permanecer oculto de modo a evitar que seja preso novamente. Assim, este recorre à ajuda de velhas amizades nomeadamente a de Paulin. O regresso a casa significa igualmente o reencontro com a sua mãe e com Juliette com que tem um filho: Louis. Com a invasão de França pelo exército alemão, a grande força motriz do protagonista e da trama do volume final da série é a busca deste pelo seu filho com o objetivo de o salvar. Deste modo, percebe-se que o argumentista pretende abordar muito mais o lado pessoal de Mattéo do que propriamente demonstrar o seu papel no confronto bélico. Particularmente, gostei bastante desta abordagem para o argumento, pois acredito que consegue ao mesmo tempo conferir um senso de finalidade para a série, bem como para a jornada do seu protagonista.

 

Se por um lado, no volume anterior o autor abordou a relação de Mattéo com o seu pai, por outro lado neste volume o artista usa algum desse tempo para abordar a relação com a sua mãe. É neste contexto que o argumentista demonstra também as consequências do exílio do protagonista. Além disso, é interessante a forma como Mattéo interage com o seu filho, uma vez que nem ele nem Juliette revelam ao rapaz a identidade do seu progenitor. A missão de resgate de Mattéo é interessante apesar de não ser algo verdadeiramente marcante. O ponto mais fraco deste volume é mesmo o final que parece um pouco apressado. Gibrat recorre a uma espécie de deus ex machina para assim conseguir encerrar um dos arcos narrativos que é apresentado no desenvolvimento do volume. Não obstante, nas páginas finais o argumentista consegue redimir-se e entregar um bom final.

 


Relativamente à parte gráfica deste álbum, o traço de Gibrat continua elegante e imediatamente reconhecível. A caracterização dos cenários é muito boa, com o devido cuidado e detalhe concedido aos elementos que o compõem, no entanto o ponto alto é a caracterização realista das suas personagens. Dado o carácter mais pessoal e profundo que o argumento assume, esta característica da arte desempenha assim um papel ainda mais importante do que anteriormente. Finalmente, o trabalho de cores assenta muito bem no traço apresentado sendo um deleite para os olhos dos leitores.


No que diz respeito à edição, a Ala dos Livros mantém o acabamento dos volumes anteriores com boa encadernação e bom papel, bem como acabamento em capa dura. Ao contrário dos volumes da Vitamina BD, nenhum dos volumes editados pela Ala dos Livros apresenta extras e este não é exceção. Poderão ver mais imagens deste álbum aqui: https://www.instagram.com/p/CqC82dbsADP/

 


"Quem espera, sempre alcança!". O ditado é antigo mas assenta que nem uma luva no percurso de publicação desta série em Portugal. Foram catorze anos que os leitores portugueses tiveram de esperar para verem a história de Mattéo finalizada e, apesar de este volume final não ser o melhor de toda a série, Jean-Pierre Gibrat consegue encerrar a mesma numa nota bastante positiva numa série muito acima da média.




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