quinta-feira, 13 de abril de 2023

Análise - "Reckless Vol. 2: Amigo do Diabo" com argumento de Ed Brubaker e ilustrações de Sean Phillips

O mais recente lançamento de banda desenhada da editora G Floy Studio trata-se do livro dois da série Reckless da autoria de Ed Brubaker e Sean Phillips. Denominado Amigo do Diabo, este livro apresenta-nos uma nova aventura do protagonista Ethan Reckless.


Uma das características mais interessantes desta série é cada capítulo apresentar uma história fechada. Deste modo, este volume pode ser a porta de entrada a este universo, mesmo para aqueles que não leram o primeiro volume. No entanto, recomendo sempre que possível a leitura pela ordem de lançamento. Dito isto, para aqueles que não leram o primeiro volume, Ethan trata-se de um ex-revolucionário dos anos 60 e agente infiltrado que atua atualmente como cobrador de dívidas, detetive privado e homem-demolidor.



Neste volume em específico, a ação passa-se no ano de 1985, uma altura em que a vida corria de feição à personagem principal. Ed Brubaker recorre a uma prolepse para iniciar a história. Assim, vemos Ethan a sobreviver a um acidente de viação e a ser perseguido por um grupo de skinheads. Dado este panorama, o argumento interrompe a ação para um momento meses antes e que irá dar origem a toda a trama. Reckless, de visita à Biblioteca de Santa Monica para encontrar pistas relativamente a um caso, conhece Linh Tran após a mesma o ajudar a contornar algumas regras de acesso a dados que pretendia. As duas personagens acabam por se envolver e criam um relacionamento. Ao longo das primeiras páginas vemos o desenrolar do caso em que Ethan trabalha, enquanto a relação de ambos se desenvolve. Numa das sessões de cinema que Ethan partilha com Linh, uma rapariga que aparece no filme desperta uma reação curiosa de Linh. Assim, Linh acaba por desvendar a Ethan que a atriz em questão é a sua meia-irmã, Maggie, e pede ao mesmo para a ajudar a encontrar, uma vez que a mesma está desaparecida.


É a partir desta premissa que Brubaker constrói mais uma história de investigação que tão bem sabe fazer. A história mantém a mesma estrutura de capítulos apresentada no volume anterior, algo que aprecio mas que para alguns poderá ser repetitiva. Apesar de todos os recursos que o argumentista utiliza aqui estarem presentes em outras histórias, o mesmo consegue deixar o leitor envolvido na trama e com a vontade de desvendar o mistério. De certa maneira, Brubaker é um cozinheiro que utiliza a mesma receita mas consegue alterar os ingredientes nos bolos que faz, conseguindo assim confecionar bolos parecidos mas com sabores diferentes. Neste volume, o artista mergulha no mundo das produções de baixo orçamento de Hollywood e dos cultos obscuros do final dos anos 70. Este cenário, bem como o facto de se tratar de um mistério que já se passou há alguns anos, leva a que Ethan tenha uma investigação mais complicada e inimigos bastante sinistros. Como consequência disto, a investigação ganha um peso maior durante o desenvolvimento da trama relativamente às cenas de ação que ficam um pouco de lado. Particularmente, não acho que seja um ponto negativo, até porque as personagens com quem Ethan interage são todas interessantes à sua maneira.


A trama apresenta algumas reviravoltas, no entanto, alguns pontos da mesma são um pouco previsíveis. Apesar disso, um dos conceitos que mais aprecio nos argumentos de Brubaker é a utilização do protagonista como narrador. Deste modo, dado a proximidade de Ethan a Linh, a investigação torna-se pessoal e isso reflete-se na forma como o protagonista reage aos acontecimentos da mesma. Além disso, acredito que o final da história seja ainda mais impactante devido ao uso deste recurso narrativo.

Passando agora às ilustrações, para aqueles que gostam do trabalho e do traço do Sean Phillips este trabalho está em linha com o que já se viu, por exemplo, na série Criminal. O traço não é ultra detalhado, o que pode fazer com que a arte passe despercebida, no entanto a composição das vinhetas é excelente, quer estas sejam um close-up ou um plano aberto. O arte também concede o estilo pulp noir, estando em linha com o argumento, e as cores de Jacob Phillips ajudam a amplificar isso.

 


A edição da G Floy Studio é no formato deluxe, em capa dura e com papel brilhante de boa qualidade. Os extras, apesar de serem curtos, na minha opinião são bons. Além das biografias dos autores envolvidos e do anúncio do próximo volume para o mês de outubro, a edição tem direito, tal como a anterior, a um posfácio da autoria de Ed Brubaker. Poderão ver mais imagens deste álbum aqui: https://www.instagram.com/p/Cq-iOq0s5Fk/

Este segundo volume de Reckless é tudo o que estava à espera. Um história de investigação ao estilo pulp noir com todos os elementos presentes em outras histórias desta dupla criativa. Apesar da estrutura da história e das ilustrações serem familiares, o grande trunfo da dupla é abordar novos conceitos e temas e conseguir envolver os leitores nas aventuras de Ethan Reckless.

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