No atual mercado editorial de banda desenhada, uma das estratégias adotadas por algumas editoras é a reedição de materiais. No entanto, já me deparei com comentários do género "Isto já não saiu por cá?" ou "Outra vez arroz?". Por esta razão, neste artigo vou abordar a questão das reedições, o porquê de serem importantes para o mercado e o excelente trabalho e atenção que algumas editoras portuguesas estão a fazer nesse sentido.
Para começo de conversa, a reedição trata-se do lançamento de um álbum anteriormente editado e que, normalmente, surge com alterações e acréscimo de conteúdo. Partindo deste princípio, as reedições são positivas pois acrescentam conteúdo aos álbuns. Um caso específico desta situação é a reedição do álbum Batman: Asilo Arkham, editado no selo Black Label da editora Levoir, que acrescenta 33 páginas de conteúdo extra, relativamente à edição do mesmo álbum lançada na Coleção Batman 75 Anos. Além disso, quando comparamos as 3 versões do álbum publicadas em Portugal, verificam-se diferenças nos aspetos de acabamento dos álbuns. A primeira edição, editada pela editora Devir, recebeu acabamento em capa brochada e papel brilhante. Por sua vez, a segunda edição foi publicada em capa dura mas com papel baço. Finalmente a terceira edição apresenta igualmente capa dura e papel brilhante, além de ter uma ilustração de capa diferente das anteriores edições. Deste modo, em muitos casos a reedição de materiais permite que os mesmos materiais sejam reapresentados aos leitores com o melhor acabamento possível.
Outro aspeto interessante das reedições são os lançamentos de edições integrais. Num caso bastante semelhante ao exemplo anterior, o álbum Batman: O Regresso do Cavaleiro das Trevas também recebeu uma edição pela Devir e duas pela Levoir. No entanto, tanto na primeira edição, como na segunda, a obra foi publicada em dois volumes, recebendo finalmente uma edição integral na terceira edição. Outro belo exemplo de uma reedição integral é o livro As Aventuras Completas de Dog Mendonça e Pizzaboy publicado pela Companhia das Letras. Referi estes exemplos a título exemplificativo, no entanto existem muitos mais casos semelhantes.
Apesar de todos os aspetos anteriores serem, na minha opinião, pontos bastante positivos das reedições, o ponto fundamental para justificar a existência das mesmas é a possibilidade dos leitores puderem comprar materiais que já foram publicados, mas que durante muito tempo não estavam disponíveis no mercado. Voltando ao exemplo inicial e partilhando a minha experiência pessoal, na altura em que comecei a ler banda desenhada, no ano de 2016, o álbum citado não estava disponível para compra em livrarias e lojas online. O álbum tinha sido reeditado em 2015 na Coleção Batman 75 Anos, no entanto quando tentei adquirir o mesmo não o encontrava. Desse modo, recorri ao mercado de usados e consegui uma cópia do mesmo, no entanto julgo que nem todos os leitores têm a disponibilidade para recorrer a estas vias, nomeadamente os leitores mais casuais. Desse modo foi de bom grado que vi a editora Levoir a disponibilizar novamente este excelente álbum aos leitores portugueses. Percebo que, dado o pequeno mercado que temos, alguns dos leitores mais antigos preferissem a edição de material inédito, no entanto acho que os mesmos devem compreender que este tipo de iniciativas são benéficas para a criação de novos leitores. Além disso, quantos mais volumes em português estiverem disponíveis, menos probabilidade existirá dos leitores recorrerem a edições estrangeiras, apoiando, assim, o mercado nacional.
Outros aspetos interessantes das reedições são as "atualizações da obra". Com isto quero referir casos como Batman: Piada Mortal que, na versão da Devir contém as cores originais de John Higgins e que, nas reedições pela Levoir apresenta as cores de Brian Bolland. Outro caso de "atualização" é a reedição da adaptação do Hobbit para banda desenhada que, na segunda edição, utilizou novas digitalizações das aguarelas. Por outro lado, as reedições permitem corrigir erros de tradução, seguir uma tradução nova e aplicar novos tipos de legendagem, balonagem e fonte para as letras.
Finalmente, o último ponto e o que acho mais pertinente nas reedições é o facto de, em muitos casos, as mesmas acompanharem a "recuperação" de séries abandonadas ou inacabadas. Neste sentido tenho de referir os exemplos das reedições de álbuns de séries como Armazém Central e Sambre, reeditados pela Arte de Autor, O Mercenário e O Corvo, reeditados pela Ala dos Livros e Peter Pan, reeditados pela ASA. Nestes casos, as editoras, além de publicarem os volumes inéditos no mercado nacional reeditam também os volumes anteriormente publicados por outra editora. Deste modo, conseguem publicar todos os volumes com um acabamento melhor e tornando a coleção uniforme no seu formato.
Numa nota final é de louvar o trabalho das editoras portuguesas no âmbito de voltarem a disponibilizar álbuns anteriormente editados e que se encontram esgotados, fazendo o mesmo com um excelente acabamento nas suas edições. Não obstante, gostaria de ver mais materiais reeditados no nosso mercado. Podem ver algumas dessas histórias neste post.
Mas digam nos comentários o que acham sobre este tópico e refiram também os álbuns que gostariam de ver reeditados no nosso país.