sexta-feira, 7 de abril de 2023

Capa Dura vs Capa Mole: Qual o melhor formato?

Os leitores de banda desenhada que gostam de comprar ou folhear os livros nas bancas certamente já se depararam com a supremacia das edições em capa dura em detrimento das edições com acabamento em capa mole. Com a evolução do mercado, ao longo dos anos, fomos graduadamente observando a evolução dos acabamentos e do luxo dado às edições de banda desenhada, o que mostra que, de facto, se está a dar a devida atenção a estes livros.

 

 

Para aqueles que liam e compravam as antigas edições da Devir percebia-se que, apesar de terem um acabamento em capa mole, este era de qualidade e que se juntava a uma boa qualidade do papel e uma boa encadernação. Apesar de ao longo dos anos essas edições fossem perdendo qualidade, um pouco reflexo da decadência da própria editora que fechou portas em 2006, aqueles que ainda têm uma edição seja do Sin City, Hellboy ou O Regresso do Cavaleiro das Trevas, perceberão que estas ainda estão num bom nível de qualidade. Apesar do fim da Devir, a Gfloy ainda lançou em coedição com a editora alguns volumes de Hellboy em capa mole, bem como o livro Orquídea Negra num formato luxuoso de capa dura e papel de boa qualidade o que mostrou um novo caminho para as edições nacionais de comics americanos.


Durante este período tivemos por outro lado editoras como a Vitamina BD e a BD Mania que apresentavam grande parte do seu catálogo, principalmente os lançamentos franco-belgas, em formato capa dura e alguns lançamentos em capa mole. Para além disso, editoras como a Witloof e a ASA apostavam igualmente em edições de capa dura. Uma estratégia muito interessante foi apresentada pela editora Meribérica que chegou a publicar muitos dos seus lançamentos tanto em versão capa dura como em versão capa mole.


Em 2012, a Levoir começou a fazer as suas coleções em parceria tanto com o Público como com o Sol. Estas edições tinham preços de 8,90€ o que presenteou os leitores de banda desenhada com livros de capa dura, com boa encadernação e boa qualidade de papel por um excelente preço. O sucesso destas coleções abriu espaço a outras que continuam até hoje. Ainda recentemente tivemos a coleção Watchmen/Doomsday Clock com um acabamento muito bom e preço de 9,90€. Com alguns altos e baixos na qualidade destes livros, estas coleções abriram um catálogo grande de obras inéditas em Portugal.

 


Além da Levoir, grupos como a Planeta DeAgostini e a Salvat começaram a apresentar coleções enormes de 60 a 70 volumes de capa dura a cerca de 10/12€ que compilaram histórias de Star Wars e universo Marvel respetivamente. Os anos foram passando e cada vez menos edições de capa mole foram lançadas. Fora alguns lançamentos da BD Mania e Panini Portugal que ainda tiveram “coragem de correr contra a maré”, mas sem grande sucesso. Ficou evidente que as editoras apostaram cada vez mais num formato luxuoso, mais voltado para os colecionadores de banda desenhada. Fica também evidente o facto de que nem todas estas edições merecem, de facto, um tratamento deste tipo. Obviamente que isto entra mais num plano subjetivo no qual não é a minha opinião que decide o que deve ou não ser editado em capa dura, no entanto parece-me que algumas das obras originais não apresentam a qualidade para ter um tratamento de luxo. Aliado a isto temos o facto do luxo ter um custo associado. Parece-me, assim, que a banda desenhada está cada vez mais a tornar-se num nicho de colecionadores e que fica limitada a indivíduos com capacidades financeiras elevadas. Deste modo, torna-se complicado para um jovem estudante tanto do básico, secundário ou até mesmo universitário comprar algumas obras de banda desenhada. E isso não devia acontecer.


É evidente que a banda desenhada, principalmente no nosso país é algo muito restrito e claramente as editoras estão a apostar mais num público alvo que tem o hábito e gosto de colecionar banda desenhada. Sem dúvida que me insiro nesse grupo de colecionadores, no entanto não sinto a necessidade de ter todas as obras em capa dura, desde que tenhamos boas edições em capa mole. Para dar alguns exemplos, editoras como a Saída de Emergência e Devir apostaram num formato menos luxuoso para as suas séries Monstress, Deuses Americanos, Paper Girls, The Umbrella Academy e Lazarus, que permitem que estas estejam mais acessíveis sem ficar muito atrás a nível de qualidade.
Também a Polvo e a Escorpião Azul, que publicam banda desenhada mais independente, têm apostado em formato capa mole de modo a que o público adira mais às suas obras. Infelizmente muitos leitores de banda desenhada não dão atenção aos artistas portugueses, o que forçosamente leva a que as editoras tenham de apostar em formatos mais económicos.
 


Apesar dos dois formatos terem tanto aspetos positivos como aspetos negativos, um dos maiores problemas é a relação qualidade/preço e a comparação entre as próprias editoras. Uma das editoras que têm ganho maior destaque ao longo dos anos e que tem agradado os leitores é a G Floy Studio Portugal. Tratando-se da contraparte portuguesa da chancela editorial de Christine Meyer, esta tem apostado forte nos lançamentos em capa dura de séries da Marvel, Image e Dark Horse. Como as edições portuguesas são impressas na Polónia com as edições do respetivo país, a G Floy Studio Portugal tem conseguido apresentar livros de banda desenhada com enorme qualidade a preços muito atrativos para o público. Isto reflete-se na estratégia da editora que passa por ter preços mais acessíveis e lançamentos mais regulares, permitindo assim ter um catálogo enorme e com várias séries completas. No entanto, alguns das obras que a G Floy editou não apresentam qualidade que merecesse o tratamento em capa dura (por exemplo Némesis de Mark Millar que acho bastante medíocre). Mesmo assim, o preço aliciante da G Floy faz com que não esteja a “pagar” mais do que aquilo que o livro me irá oferecer. Isto de certa maneira coloca alguma pressão em outras editoras que apresentam preços semelhantes para materiais em capa mole. Isso é o caso da Devir e Saída de Emergência, que poderão ter de repensar a sua estratégia para se tornarem competitivas com a G Floy por exemplo.


Voltando ao caso da G Floy, a sua aposta é de certa maneira uma “faca de dois gumes”, pois se por um lado temos edições em capa dura bastante ousadas como por exemplo Os Novos X-Men, que são edições belíssimas com mais de 300 páginas, que irão agradar os colecionadores, novamente os públicos mais jovens terão mais dificuldades em adquirir estes volumes.
Já no caso da Levoir as coisas já não são tão regulares. Enquanto que as coleções acima descritas têm preços bastante aliciantes às quais se juntas as coleções das Novelas Gráficas, que têm um papel importantíssimo na divulgação e expansão do público alvo com narrativas mais autorais e complexas, os lançamentos individuais de obras do universo da DC apresentam muitas vezes preços ao dobro dos volumes das coleções. Obviamente que as parcerias com os jornais e o facto de estarem inseridas em coleções permitem preços mais baixos, uma vez que o público alvo pretende, na maioria dos casos adquirir todos os volumes dessas coleções.
Observando os últimos lançamentos temos algumas diferenças entre preços, onde volumes com 120 páginas (Batman: Ano Um) terem o mesmo valor de volumes de 184 páginas (Joker). Voltando novamente às Novelas Gráficas seria interessante se a Levoir conseguisse amenizar esta disparidade entre os preços dos livros que edita.

 


Uma das editoras com uma estratégia interessante é a Arte de Autor. Com um catálogo relativamente vasto temos livros com acabamentos diferentes. Enquanto que séries como Duke, Drunna, Armazém Central e Sambre têm um papel mais cuidado e brilhante, por outro lado os livros da série Agatha Cristie, além de serem mais pequenos têm um papel que não é tão luxuoso, o que permite um preço mais económico e que mais pessoas possam ter acesso.

Sem dúvida que é muito bom ter livros com capas duras, papel de boa gramagem e brilhante e repletos de extras, no entanto é preciso termos livros não tão luxuosos que permitam que mais pessoas ganhem o hábito de ler banda desenhada. Deste modo, a alternância entre TPB (trade paperbacks) e HC (hard covers) poderá ser uma alternativa que abranja mais leitores com diferentes possibilidades económicas.
Por fim, uma editora que apostasse num formato mais económico e que lançasse, por exemplo, TPB’s da Marvel, DC Comics, Image e Dark Horse, além de permitirem alternativas económicas aos HC, poderiam também conduzir à edição de mais materiais inéditos e diminuir o risco de lançamento de determinadas obras. Veja-se o caso da Coleção Clássica Marvel que apresenta um acabamento mais modesto mas que em contrapartida tem um valor de venda inferior a 10€ para livros com cerca de 120 páginas.

 


Não posso terminar sem referir, e fazendo relação com o tópico anterior, à necessidade do nosso mercado ter lançamento semanais de banda desenhada como as revistas da Devir e da Goody. Sem dúvida que, para além de permitir essa alternativa barata, iria também resgatar o hábito de ir à banca comprar banda desenhada que muitos leitores sentirão falta.
 

Finalizo este artigo referindo esta é a minha perceção do mercado e deste tema da “capa dura vs capa mole”, no entanto estão à vontade para darem a vossa opinião e darem a conhecer outras perspetivas que eu e o grande público não temos acesso.


E vocês preferem capa dura, capa mole, ou uma alternância entre os dois formatos?


2 comentários:

  1. Eu prefiro sc/hc formato americano e mais facil de ler,manusear.Oversized so para edicoes completas de series.Tanto a levoir como a g-floy ja tiveram melhores precos.A uma lacuna enorme de material classico da decada 80.

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  2. Marvel e dc.O conteudo tem valer mais que a lombada.

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