segunda-feira, 11 de setembro de 2023

Análise - "Moby Dick Vol. 1 e 2" com argumento e ilustrações de Christophe Chabouté

A adaptação do romance Moby Dick de Herman Melville com argumento e ilustrações de Christophe Chabouté e que foi originalmente publicado em dois volumes pela Vents d'Ouest em 2014 recebeu finalmente edição nacional pela editora Levoir como os volumes 1 e 2 da Coleção Novela Gráfica - Série VII.



Para começar admito que nunca li a obra original, pelo que não poderei dar a minha opinião relativamente à fidelidade da adaptação. Mesmo assim, fiz uma pesquisa e descobri que o livro é bastante mais extenso do que a adaptação para BD, pelo que concluo que o artista francês decidiu incluir apenas os momentos fulcrais do romance na sua adaptação. Não obstante, após a leitura não senti nenhum corte abrupto na construção narrativa. Com isto, considero que Chabouté apresenta uma história bem construída e que assenta perfeitamente na construção e divisão da mesma através de capítulos. Para quem leu a adaptação de Frankenstein de Mery Shelly de Georges Bess saberá do que estou a falar. Mas, para aqueles que não conhecem a premissa do romance, a história passa-se no século XIX, no auge da indústria baleeira que operava na Nova Inglaterra. O narrador, Ismael é um jovem que anseia por novas experiências o que o leva a embarcar no navio baleeiro, que está prestes a zarpar, o Pequod. O misterioso capitão do navio, Ahab, tem como único objectivo vingar-se de Moby Dick a baleia branca que lhe arrancou uma perna. Toda a tripulação vai unir-se ao seu capitão em busca de vingança, tornando a viagem perigosa e doentia.



De facto, apesar de Moby Dick ser uma história que apresenta momentos frenéticos de ação, inicialmente com a captura de cachalotes e, posteriormente com o combate mortal com a criatura que dá nome ao livro, a narrativa apresenta um vigor e força maior nos seus temas, sejam eles o confronto entre homem e natureza ou na desenfreada e desmedida busca por vingança por parte do capitão do navio. Indubitavelmente foram estes temas que mais me atraíram durante a leitura da obra. É fascinante a forma como a obsessão do comandante do Pequod o leva à loucura, além de tornar toda a tripulação prisioneira da sua sede de vingança. Deste modo, as interações entre os personagens são intrigantes, dado que os mesmos têm consciência de que o animal apenas se conduz pelo instinto inerente à sua natureza, enquanto vêm o seu comandante a sucumbir aos mesmos instintos, perdendo a capacidade de racionalizar durante o processo.



Algo que descobri durante a pesquisa relativamente à obra original é que a mesma é bastante extensa dado o seu caráter extremamente descritivo. E é neste sentido que a genialidade de Chabouté vem ao de cima. Através do seu exímio trabalho a preto e branco e extremamente expressivo, o mesmo consegue transmitir aos leitores de forma impactante a vasta gama de sentimentos e sensações que os personagens sentem. Deste modo, a máxima "uma imagem vale mais do que mil palavras" é aplicada de forma exímia. Além disso, permite que os capítulos se desenrolem com uma ritmo bastante agradável. Mas para além deste ponto, a ilustração do artista é exemplar na planificação das vinhetas, bem como no uso e alternância do preto e branco no fundo das vinhetas. Finalmente, o mesmo emprega dinamismo nas cenas de ação, além de mostrar com brutalidade a força do animal. Destaque ainda para a genialidade da capa do segundo volume, em que apresentam apenas parte do animal, o que passa a sensação de enormidade da criatura.





Sabendo que este material foi publicado no âmbito da Coleção Novelas Gráficas da Levoir e tendo em conta a relação qualidade/preço destas edições é normal que alguns leitores achem que esta obra merecia uma edição melhor. Particularmente gostaria de ver esta obra numa edição integral e com um formato maior (como o original) à semelhança do livro Frankenstein de Mery Shelly editado pel'A Seita. Mesmo assim, acho que a edição da Levoir é interessante. Mais uma vez estas são em capa dura com destaque para o papel que apresenta textura baça (ideal para o preto e branco da ilustração) e gramagem superior a outros volumes de coleções anteriores da editora. Destaque ainda para o texto introdutória da autoria de Pedro Bouça que prepara o leitor para o conteúdo do livro, além de conter informações relevantes.
Poderão ver mais imagens destes álbuns aqui: https://www.instagram.com/p/Cww5scEMAXW/ e https://www.instagram.com/p/Cw7JJrtsJRH/.



Se durante 3 anos os leitores portugueses não puderam desfrutar de uma Coleção Novela Gráfica da Levoir, os mesmos têm aqui a possibilidade de leitura de uma obra que, por si só, já justifica a existência da sétima série da mesma. Mesmo não apresentando a edição que o material merecia, a leitura de Moby Dick é altamente recomendada e sem dúvida merece estar nas estantes dos leitores de BD.

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